quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

A alguém...

Se eu soubesse como dizer,
Se eu soubesse como explicar,
Se eu soubesse que não ía perder…
Dizia que estou a amar.

Mas como não o sei,
E como não quero perder…
Nada farei,
Nem para ter, nem para esquecer.

Sendo assim, nada faço.
Nem desisto nem tento,
Nem amo nem esqueço…
Só sinto.

E assim ficarei:
Amiga somente.
E amarei,
Eternamente…



Anónimo

Aqueles que têm nome e nos telefonam...

Aqueles que têm nome e nos telefonam
Um dia emagrecem – partem
Deixam-nos dobrados ao abandono
No interior duma dor inútil muda
E voraz

Arquivamos o amor no abismo do tempo
E para lá da pele negra do desgosto
Pressentimos vivo
O passageiro ardente das areias – o viajante
Que irradia um cheiro a violetas nocturnas

(…)

Nem a vida nem o que dela resta nos consola
A ausência fulgura na aurora das manhãs
E com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
O rumor do corpo a encher-se de mágoa

Assim guardamos as nuvens breves os gestos
Os Invernos o repouso a sonolência
O vento
Arrastando para longe as imagens difusas
Daqueles que amámos e não voltaram
A telefonar


Al Berto

sábado, 20 de janeiro de 2007

A morte...

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa


E eu acredito MESMO que Ela estará sempre em mim...
(Obrigada C.)

sábado, 6 de janeiro de 2007

Pensar?


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro
(O Guardador de Rebanhos)